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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Vista Cansada

   “Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

   Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

   Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

   Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

   Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.”


Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.

Otto Lara Resende

terça-feira, 21 de maio de 2013

Que lugar é esse?

   Onde estou? Está tudo tão escuro. Me levanto para saber onde estou, mas não enxergo nada, está um breu só por aqui. Mas o que seria aquela luz lá ao fundo? Chego mais perto, mas a minha visão ainda turva não identifica o que seria aquilo. Me parece uma vela no chão. Sua luz ilumina meu rosto pálido e minhas mãos trêmulas. Essa luz fraca parece inútil, mas me traz calma, agora eu sei por onde andarei.
   Sigo em frente e encontro uma parede branca. Está áspera como uma lixa, mas vou seguir por ela para ver onde vai dar. Dou poucos passos à direita e vou ao encontro de mais uma parede. Volto e vou para a esquerda agora, mas não dou muitos passos novamente e encontro outra parede. Decido acompanhar dessa vez os limites. Mas é estranho, novamente dou poucos passos e chego ao limite. Até parece que as paredes vieram do nada, afinal, eu corri muito para chegar onde estou e de repente me encontro em um cômodo pequeno e sem portas. O que me intriga mais é a luz da vela que está ficando mais forte, iluminando tudo à minha volta.
   O quarto está claustrofóbico, com alguns arranhões e manchas nas paredes. No centro há um pote aparentemente vazio. Deixo a vela no chão e pego o pote. Parece comum, mas sinto algo estranho, ele parece vibrar em minhas mãos como se estivesse vivo. Abro-o e dele sai pequenas borboletas, de todas as cores imagináveis, cores foscas e brilhantes. Elas crescem e começam a voar ao meu redor em sentido horário. São muitas, não consigo nem sequer contar. Elas me envolvem em uma dança, me perco no meio delas.
   Quando menos espero, vejo-as subindo ao céu azul, o quarto sumira e eu... Onde estou? Parece um campo aberto. Vejo uma árvore grande a meia distância. O pasto segue até o fim do horizonte, onde o céu e a terra eternamente se beijam. A vela não é mais necessária, deixo-a na grama e começo a caminhar.
   Avisto alguém vindo ao meu encontro, parece alguém que conheço, alguém com quem não falo há tempos. Ela passa direto por mim, como se eu não existisse. Começo a olhar mais atentamente ao meu redor e vejo que não é só ela, mas várias pessoas com quem já confiei e hoje não sei nem onde estão. Amigos, melhores amigos, simples colegas. Convivi com muitas pessoas e reencontro-as hoje como se fossem meros zumbis. Namoradas, familiares que já se foram, mas agora os vejo como se não tivessem alma, apenas vagassem sem rumo com seus corpos.
   Quantas histórias de amor, quanto romance, quantas aventuras e brincadeiras estão vagando por aqui. Estaria eu perdido em minhas memórias? Se assim for, posso simplesmente escolher viver aqui e procurar recuperar tais momentos felizes e tristes? Posso. Do mesmo modo que posso tentar fugir daqui e mandar mais pessoas para este cemitério, querendo ou não, e criar novas experiências, novos momentos felizes, novos momentos tristes.
   Escolho viver. Saio pelo campo a procura da saída. As pessoas começam a aglomerar-se ao meu redor, dificultando meu caminhar, até que eu encontro uma escada que vai até uma pequena porta no céu. Subo e volto a viver. Me encontro no meu quarto, deitado em minha cama olhando para o teto.
   Teria sido tudo um sonho? Não pode ser, era tudo tão real. Os toques, os cheiros, os sons. Mesmo assim, quero me convencer de ter sido um sonho. Mas o que é isso que está sob mim na cama. São fotos. Fotos de todos aqueles que deixei para trás na estrada da vida. Agora eu vejo que fora tudo real sim, não um mero sonho, mas uma realidade onde eu tive a oportunidade de viver com as fotos ou viver e tirar novas fotos.
   Memória, fotos e lembranças, tudo o que restou de um passado que não me arrependo de ter vivido, não me arrependo de ter deixado para trás.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Eu só escrevo

   Eu não preciso de leitores, mas os leitores e leitoras precisam ler, e é aí que eu entro.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Eu escrevo

   Eu escrevo. Escrevo por que gosto, por que quero. Escrevo por que amo, por que eu tenho em quem me inspirar. Tenho o que escrever, tenho para quem endereçar. Tem quem precisa, tem quem quer, tem quem evita. Tem quem ame, tem quem odeie. Tem quem ache lindo, tem quem ache gay. Tem eu, tem você, tem o mundo, tem ninguém.
   A cada verso, estrofe ou refrão, não importa como chame, dedico cada letra a uma pessoa diferente, do mesmo jeito que endereço um livro inteiro de imaginação e imaginação para uma pessoa só. Só preciso do meio, pois tempo eu arranjo, vontade eu tenho e criatividade vem do coração.
   Escrever é um dom. Dom que todos temos, ao menos, todos podemos ter, basta ouvir o que o seu coração tem a dizer. Dom de poder transmitir tudo que sente em palavras. Tom que todos temos, mas poucos expressam. Escrever não usa-se apenas palavras, mas sim uma vida de amores, sofrimentos, ódios e prazeres.
   Sim, meu amor, eu escrevo pensando em você, escrevo pensando em outras, escrevo pensando em mim, escrevo pensando em ninguém.  Dedico estas palavras ao destino, que me juntou com tanta gente, pois sem o destino, não teria a quem escrever, não teria o porquê escrever. Sem o destino, a vida não teria graça, afinal, como é que consegue viver sem querer mudar alguma coisa? Se não fosse o destino, não teria como existir o acaso, afinal, o acaso é um destino mudado aleatoriamente por nós mesmos.
   Somos livres para escolhermos o nosso destino.
   Vá, e me deixe com essas palavras. Leve um pouco para você, e mais um pouco para o mundo. Leve o que eu sei, o que eu não sei e o que eu quero saber e, junto de você, crie pessoas, amigos, família, inimigos. Leve às crianças, aos pais delas, aos irmãos e amigos. Faça como uma gota na água e espalhe para o mundo tudo o que tenho a dizer.
  Tudo o que tenho a dizer? Me ajude a juntar tudo o que eu disse e tudo o que quero dizer e teremos a certeza de que não será nem o dízimo do que eu realmente quero dizer, mas com certeza será tudo o que eu pude dizer.
   Apenas vá, pois eu escrevi, e alguém precisa ler.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Desculpa

   Desculpa se eu não fui o bastante para você.
   Desculpa se o meu melhor não é o bastante para você.
   Desculpa se a minha vida não é o bastante para você.
   Desculpa se 6 dos 7 dias da semana é pouco tempo para você.

   A única coisa que eu posso dizer agora é: Boa sorte.
   Boa sorte para encontrar alguém que te ame como eu te amei.
   Boa sorte para encontrar alguém que te respeite tanto quanto eu, que te valorize tanto quanto eu.
   Boa sorte para encontrar alguém que se entregue tanto quanto eu me entreguei para você.

   No mais...